quarta-feira, 18 de abril de 2007

BELEZA COMPRADA

O ritual é sempre o mesmo. Milhares de “desportistas de verão” invadem as academias, de dezembro a março. Mas quando vai chegando o outono e entrando o inverno, todos se rendem aos prazeres terrenos e trocam o “culto ao corpo” pelas delícias de um bom fondue, à frente de uma lareira bem quente, no alto de uma serra aconchegante.



EM BUSCA DO IMEDIATISMO



À procura de uma boa aparência para aqueles que vão admirá-las nas praias, chegam às academias de ginástica e musculação à espera de verdadeiros milagres e buscam os exercícios localizados, com a pretensão de perder todos os quilinhos ganhos nas outras estações, tonificar os músculos e até retirar a celulite acumulada ao longo dos anos e tudo isso naquele imediato instante.



A prática regular de exercícios físicos é recomendada pela Organização Mundial da Saúde, mas a maioria das pessoas só lembra de controlar os excessos durante o verão. Nesta época, lotam as academias a fim de preparar o corpo e deixá-lo em forma para freqüentar as praias mais badaladas da estação.



INVERNO E O GANHO DE PESO



“As pessoas acreditam que em três meses podem perder tudo o que ganharam no Inverno e, muitas vezes, ao longo dos anos. Embora avisemos que tal não será possível, resolvem tentar”, explica Vanessa Antunes, professora de educação física.



O que é necessário e fundamental é que esta busca não se torne superficial e abusiva. A sociedade cobra beleza e magreza. Cabe a cada um cobrar de si próprio, além daquilo que lhe é imposto socialmente. Vale lembrar também que a prática exagerada de exercícios físicos pode ser prejudicial à saúde.



CULTO AO CORPO



Especialistas alertam para a preocupação demasiada com a estética. A escritora Ana Lúcia de Castro apresenta em seu livro ”Culto ao corpo e sociedade”, um estudo baseado sociologia e antropologia, sobre a verdadeira adoração pelas formas bem delineadas imperantes hoje, o que é bem detectado pela atração que exercem as academias sobre seus clientes, ávidos por um corpo torneado. O psiquiatra Carlos Tavares concorda com a visão da autora sobre a preocupação dos indivíduos com o corpo, principalmente no que concerne à fantasia que ele cria sobre si a figura almejada, muitas vezes imposta pela sociedade.




“Não podemos crer que existe um padrão a ser seguido. A moda, os gostos e, até mesmo, a cultura de um povo mudam com o passar do tempo. Há pouco mais de vinte anos, formas mais arredondadas e seios menores eram o padrão feminino, e os homens não queriam tantos músculos. Hoje seios fartos, cintura bem traçada e músculos em excesso estão em voga. Mas quem garante que daqui a vinte ou trinta anos não haverá uma nova revolução nos critérios de beleza? Cabe ao indivíduo lidar com suas imperfeições e tratá-las ou corrigi-las de forma consciente, sem exageros”.



PESQUISA



Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Juiz de Fora constatou que os índices de insatisfação com o corpo atingem 76% dos homens e 82% das mulheres. A mesma pesquisa afirma que cerca de 55,6% dos entrevistados apresentam algum tipo de distúrbio psicológico em grau reduzido, em virtude da obsessão pelo corpo perfeito.



O psiquiatra Carlos Tavares, responsável pela pesquisa, acredita que esses distúrbios comportamentais afetam principalmente aos jovens, naturalmente mais suscetíveis ao estereótipo de beleza difundido pela sociedade. “Casos como o da modelo Ana Carolina Reston, que morreu aos 21 anos, vítima de anorexia, só afirmam o quanto esta ditadura impõe um padrão de beleza quase inatingível. A imagem que a pessoa cria de si mesma costuma ser mais mental do que física. Cada vez mais jovens, e não apenas mulheres, enveredam por esta jornada insana de culto ao corpo, muitas vezes sem volta”, diz o psiquiatra.



FÓRMULAS MILAGROSAS





O uso de anfetaminas e outras fórmulas e dietas milagrosas causam controvérsias. A endocrinologista Maria Fernanda Bulhões alega que em casos específicos de obesidade, onde os pacientes apresentam alto índice de massa corpórea (IMC), as anfetaminas podem úteis no processo de emagrecimento. “As drogas para emagrecimento foram difundidas de forma errada entre a sociedade. Pessoas que não necessitam efetivamente de perda de peso imediata, utilizam estes medicamentos de forma desmedida.



Existem casos e casos, devemos saber separá-los adequadamente, considerando cada um dos fatores, desde o físico ao psicológico de cada um dos pacientes. Milagres não existem e esses medicamentos não funcionam sozinhos, devem ser associados a uma alimentação balanceada e exercícios físicos regulares”, aconselha.



BRASIL E A CIRURGIA PLÁSTICA



Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), o Brasil é o segundo país em números de cirurgias plásticas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. O barateamento destas intervenções, bem como a evolução das técnicas, possibilitaram que elas se popularizassem entre diversas camadas da sociedade. O cirurgião André Gonçalves Abrantes afirma que os avanços na medicina, especialmente no campo da estética, favoreceram a sociedade, que procura, cada vez mais, sentir-se bem com seu corpo.




“Obviamente, a idéia de que a cirurgia tornou-se algo banal não se fundamenta. Ainda há riscos e cada paciente tem suas especificidades, que devem ser analisadas no processo pré-cirúrgico. Existem casos de clientes que chegam ao consultório querendo o nariz ou os seios daquela atriz, sem considerar que seu biótipo pode não compatibilizar com o que ela almeja. Cabe ao cirurgião plástico conversar com o paciente para que juntos cheguem a um senso comum. Várias clientes já que desistiram da cirurgia após uma conversa”.



PLÁSTICAS SÃO MAIORIA EM MULHERES



Em 2004 a SBPC divulgou que a procura por cirurgias plásticas cresceu cerca de 30% naquele ano, sendo cerca de 60% estéticas e as demais reparadoras. As mulheres entre 35 e 50 anos correspondem a 88% dos pacientes. Segundo o Dr. Abrantes, os homens procuram cada vez mais por cirurgiões, mesmo que para intervenções menos abrasivas. “Medicamentos como o Viagra tornaram o homem mais feliz. Para conquistar parceiras, eles querem ter aparência mais jovial. Além disso, as mulheres estão mais exigentes. A maior presença masculina em clínicas e consultórios também se deve ao aspecto cada vez mais natural obtido pelas técnicas cirúrgicas”, afirma o cirurgião.








Um comentário:

Anônimo disse...

gostei muito desse texto